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Madeira: Negócio sobrelotado

por Redação
17 Janeiro, 2017

O Pós-Venda automóvel na Madeira tem, de facto, características muito particulares, não apenas relacionadas com a geografia ou com o dinâmico turismo da ilha. Só em peças, haverá stock para o triplo do parque circulante.

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A Revista PÓS-VENDA, de forma absolutamente in.dita no setor editorial especializado, leva até si este “Especial Pós-Venda Madeira”. Visitamos cerca de 20 empresas, não só as mais representativas do setor na Madeira, falamos com muitos profissionais do setor, alguns deles com um longo historial no Pós-Venda na Madeira e outros com experiência no Continente e na Madeira, como outras pessoas e entidades foram contactadas para darem o seu contributo a este trabalho.

Empresas de peças, pneus e tintas, bem como oficinas, associações setoriais e grupos de retalho automóvel foram o nosso alvo nesta primeira grande abordagem ao negócio Pós-Venda da Madeira, até porque eram estes que nos permitiam mais facilmente a caracterização mais apurada, conhecedora e fundamentada sobre este negócio naquela importante região de Portugal.

CARACTERIZAÇÃO

Depois de ouvidos os profissionais, a primeira grande nota de destaque é que o setor do Pós-Venda na Madeira está saturado. Daí não vem nenhuma diferenciação face ao Continente, a não ser pela questão de que o parque circulante de automóvel na Madeira na região não tem tido grandes oscilações, embora nos anos de crise muitos veículos tenham circulado muito menos do que acontecia no início da década.

É consensual que existem demasiados operadores ao nível das peças, geograficamente estão muito concentrados e apesar de todos estes operadores se conheceram muito bem uns aos outros, associativismo é uma palavra que não existe (mas já voltamos a este assunto).

Um dos operadores que entrou no mercado na Madeira há cerca de seis anos, veio revolucionar um pouco a entrega de peças nas oficinas (utilizando motas). Atualmente, quase todos os operadores fazem a distribuição de peças nas oficinas com frota própria, embora alguns coloquem em causa a rentabilidade dessa operação, o que nem é de estranhar se pensarmos que muito as vendas em balcão são superiores a 60% e em alguns operadores chega aos 80%.

Todas as marcas de automóveis (concessionários) na Madeira vendem peças, tendo balcões especializados para o fazerem, abastecendo quer as próprias oficinas quer os clientes profissionais. Porém, nem todos têm uma atitude dinâmica no mercado com vendedores e entregas, por considerarem que geograficamente não é necessário, tal a concentração das oficinas na grande região do Funchal.

À exceção dos mais pequenos e recentes, atualmente quase todos os retalhistas de peças com alguma dimensão têm uma oficina (ou mais) ou um outro negócio relacionado na área automóvel. Curiosamente, ter retalho de peças e oficina é algo que o mercado aceita com naturalidade e acaba também por ser uma necessidade, face ao incremento de venda de peças em balcão ao consumidor final, sejam eles particulares ou não.

As maiores empresas associam diversas valências no setor automóvel, isto é, têm negócios nas peças, rent-a-car, vendas de usados, seguros, oficinas de mecânica e chapa / pintura e, por exemplo, renting. Esta concentração de negócios numa empresa (ou num conjunto de empresas do mesmo grupo) deve-se à total ausência de associativismo que existe. O volume de stock de peças poderia ser muito mais reduzido se as empresas partilhassem compras ou se realizassem vendas entre elas (o que segundo alguns profissionais acontece muito pouco).

É também interessante verificar que um retalhista de peças na Madeira tem um volume de stock (em termos médios) muito mais elevado que um retalhista de peças semelhante no Continente. Tal deve-se, acima de tudo, a razões logísticas. Isto é, uma peça, uma bateria ou um lubrificante, pois alguns não podem ser transportados por avião, mas apenas por barco e o tempo de transporte é elevado. Normalmente os urgentes podem estar disponíveis de um dia para o outro, mas sempre com custos mais elevados. Tirando algumas exemplos, interessante é também a aposta feita pelos retalhistas de peças na qualidade das mesmas. Existem poucas importações diretas, sendo a maioria abastecido pelos grossistas nacionais, optando-se, na maioria das vezes, por peças de fabricantes de relevo (que normalmente estão no primeiro equipamento).

São as peças de desgaste que têm um elevada rotação, o que também acontece no Continente, mas na Madeira isso assume especial significado devido à morfologia da ilha, com subidas e descidas muito acentuadas a castigarem muito a travagem.

Um problema que tem vindo a aparecer cada vez mais no parque automóvel madeirense tem a ver como os filtros de partículas. Os trajetos curtos que caracterizam as viagens na Madeira fazem com que os filtros de partículas fiquem “entupidos” mais rapidamente.

MERCADO PARALELO

Realçado por todos os operadores, é que existe muito serviço oficinal feito por mecânicos fora das oficinas com porta aberta. O facto de haver muitas vendas ao balcão por consumidores finais deixa logo a entender precisamente que muita da manutenção e/ou reparação é feita paralelamente às oficinas. Apesar deste ser um problema nacional, ficou evidente que o mesmo assume grandes proporções na Madeira, embora seja um assunto que poucos pretendam abordar.

Um dos assuntos mais focados por quase todos os operadores contactados é o da falta de formação, nomeadamente técnica, nas oficinas independentes. Tirando alguma formação dada pelos representantes das marcas de peças, por uma associação ou por alguma entidade privada, não existe uma oferta formativa de relevo na Madeira no plano técnico. Não é fácil captar profissionais para as formações quando elas existem, como é difícil contratar jovens mecânicos para as oficinas, que é apontado por muitos operadores como um recurso escasso na Madeira.

Um dos setores que mais influência tem no negócio de peças e oficinal é o do turismo, através das rent-a-car e de todos os serviços que utilizam transportes para turistas. As maiores frotas são destes operadores que muito contribuem para a faturação das oficinas em geral e das casas de peças.

PNEUS

Provavelmente o volume de pneus em stock na Madeira permitiria que todos os veículos em circulação pudessem trocar de pneus todos os anos. Também neste setor se coloca o problema dos elevados stocks, mas em 2015 passou a haver na ilha um grossista de pneus, embora outras estruturas, não se assumindo como tal, também funcionem como grossista tal o volume de stock que possuem. Curiosamente, já se fala que mais uma grossista de pneus (e outro nas peças) deverá ainda este ano começar a operar na Madeira.

Ao nível das tintas e consumíveis para oficinas de chapa e pintura, o número de empresas que opera neste ramo é considerado elevado para as necessidades da ilha. As grandes oficinas estão ligadas ao retalho automóvel, existindo depois alguns operadores independentes com dimensão, mas a grande maioria são pequenas oficinas, muitas delas sem estufa (apesar de ter vindo a aumentar o número de estufas na Madeira). Neste mercado existe também pouca formação disponível, cabendo aos revendedores essa responsabilidade ao nível do aconselhamento técnico.

No geral, todos os grandes operadores nacionais de peças, pneus e tintas, operam através dos seus parceiros na Madeira (alguns fazem-no diretamente com estruturas próprias), sendo um mercado que não é elástico e muito suscetível à entrada de novos operadores.

 

NOTAS SOBRE O PÓS-VENDA NA MADEIRA

> Mercado saturado
> Parque circulante deverá rondar os 135.000 veículos
> 70% do Pós-Venda feito no sul da ilha
> 80% do negócio num raio de 25 quilómetros do Funchal
> Parque industrial da Cancela reúne um grande número de operadores
> Vendas de peças em balcão representam (em média) 70% das vendas totais dos operadores
> No geral os retalhistas de peças apostam em marcas de qualidade
> Consumidor final tem uma grande representatividade na compra de peças
> Muitos retalhistas de peças têm oficinas associadas ou outros negócios auto (rent-a-car, venda de usados, etc)
> Os rent-a-car têm um peso significativo no consumo de peças
> Pastilhas, discos, filtros, turbos, filtros de partículas, radiadores e embraiagens estão entre as peças mais consumidas
> Maioria das oficinas são de pequenas dimensão, com 1 a 3 funcionários
> As maiores oficinas são sobretudo as que estão associadas aos grupos de retalho automóvel
> Negócio de pneus é dominado por três ou quatro empresas
> A maior concentração de clássicos de Portugal realiza-se na Madeira
> Forte especialização no restauro de clássicos na Madeira
> Insularidade obriga a volumes de stocks de peças muito elevados
> O mercado paralelo, tem uma enorme representatividade
> O IVA a 22% já não representa uma vantagem para o setor automóvel

 

 

OPINIÕES DOS PLAYERS DA MADEIRA

“Algumas empresas fecharam e outras dividiram-se, muitos desses profissionais foram criar novas casas de peças”
João Correia, Autopop

“Nota-se que é um setor (repintura) que não evolui tanto quanto os outros e que está a demorar a acompanhar essa tendência”
Roberto Baptista, Impoeste

“Às vezes quando sabem que compramos peças à concorrência alguns ainda dificultam mais”
Duarte Reis, Bravapeças

“Aqui as pessoas gostam muito de manter o nome das suas oficinas, não é fácil introduzir um conceito oficinal”
Luís Gonçalves, Peças Ram

“As entidades estão a fazer um bom trabalho, têm fiscalizado muito e por isso o mercado paralelo tem diminuído”
Patrícia Silva, ELPS

“A ilha está a car pequena para tanto carro”
Énio Andrade, Nazaré Peças

“Na questão dos preços se nos sentarmos a uma mesa, todos tínhamos a ganhar”
Egídio Ferraz, Unipeças

“Existem muitas oficinas de porta fechada, o Governo Regional anda muito em cima das oficinas de vão de escada e das que não oferecem condições”
Sérgio Pinto, Serpeças

“Cada vez que passo na rua descubro uma nova oficina”
Egídio Ferraz, Unipeças

“Já existe muita gente a perguntar o preço da peça e não o desconto da peça”
Nuno Berenguer, Vulcanizadora 25 de Abril

“Não existe associativismo”
Duarte Reis, Bravapeças

“O flagelo do pneu usado continua em grande na Madeira, o segundo problema é o esmagamento das margens”
Paulo Pereira, Pneu Express

“Aqui, na Madeira, o cliente é mais exigente do que no continente”
Pedro Nascimento, Pneuimpex

“Cada vez mais o cliente particular compra no balcão”
Luís Gonçalves, Peças Ram

“O que se passa é que a o cina perdeu importância, o consumidor nal compra bastante, o que trás alguns problemas”
João Correia, Autopop

“Não se arranja mecânicos na Madeira”
Duarte Reis, Bravapeças

“Muitos continuam a fazer o que faziam há 15 anos, sem mudar ou a mudar lentamente”
Roberto Baptista, Impoeste

“Os conceitos oficinas não funcionam aqui, uma coisa é o continente e outra coisa é cá”
Nuno Berenguer, Vulcanizadora 25 de Abril

“As oficinas vão de escada estão a diminuir mas é ainda uma realidade”
Luís Gonçalves, gerente da Peças Ram

“A insularidade é um problema do ponto de vista logístico”
Patrícia Silva, ELPS

 

 

 

 

 

PALAVRAS-CHAVE