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Personalidade do mês – Rui Gonçalves, ARAN: “Uma nova oficina tem muitos benefícios em tornar-se nossa associada”

31 Dezembro, 2018

Desde finais de 2017 que Rui Gonçalves é o novo Presidente da ARAN, cargo que assumiu de forma inesperada, apesar de já estar integrado nos corpos sociais desta associação há já vários anos. O objetivo é continuar o legado do seu antecessor António Teixeira Lopes.

ENTREVISTA PAULO HOMEM FOTOS ANTÓNIO SILVA

A morte súbita em outubro de 2017 de António Teixeira Lopes, histórico e irrequieto Presidente da ARAN, durante mais de uma década, não deixou orfã nem desprevenida esta associação. Não se pode obviamente dizer que se estava à espera deste infeliz acontecimento, mas a verdade é que na ARAN já estavam previstas algumas mudanças, como é o exemplo de Neli Valkanova, que estava prestes a assumir o cargo de Secretária-Geral, como acontece atualmente e que foi das pessoas que mais de perto acompanharam António Teixeira Lopes e que no fundo está a dar continuidade ao seu projeto. Porém, quem assumiu a figura mais institucional da ARAN foi Rui Gonçalves, que embora não esteja a tempo inteiro nos destinos da Associação, passou a ter uma presença mais assídua no desenvolvimento do trabalho que esta entidade continua a desenvolver, para além de pertencer à direção há quase uma década. Assim, mais de meio ano depois de ter sido nomeado Presidente da ARAN, a revista PÓS-VENDA publica a primeira grande entrevista com Rui Gonçalves, que que assume que gostava de ver uma ARAN com mais associados, o que tem vindo a acontecer, mais próxima das outras associações setoriais, mas mantendo a sua função principal, que é apoiar todos os seus associados.

Está na ARAN desde 2011. Apesar de ter sido precipitada pelo falecimento de António Teixeira Lopes, a sua entrada para Presidente da Direção acaba por ser natural?
Para ser verdadeiro, nunca tinha pensado nisto antes. Porém, desde agosto de 2017 que o António Teixeira Lopes já tinha proposto algumas alterações, como a passagem da Neli Valkanova para Secretária-Geral, passando assim a ter um papel mais ativo na ARAN. Sendo eu vice-presidente acaba por ser algo natural que tenha assumido a presidência, mas nunca tinha previsto candidatar-me a esse cargo. Assumi com naturalidade, pois era o sucessor natural, encarando essa responsabilidade de ser Presidente da ARAN.

Mas podia ter recusado…

Entendi que era uma Associação que estava de boa saúde e bem organizada, que no fundo, já era a ideia que eu tinha antes. Sendo uma boa Associação e capaz, com as suas contas em ordem, o projeto ARAN deste ponto de vista não me meteu medo, até porque sabia o que ia encontrar. Também já antes participava na Associação, concordava em grande parte com a linha que estava a ser seguida e com as decisões que estavam a ser tomadas e, por isso, era uma questão de dar continuidade.

O que está a mudar e vai mudar com a sua Presidência na ARAN?

Do ponto de vista operacional mudaram algumas coisas, existindo reuniões mensais de direção e até considero que atualmente toda a direção está mais envolvida do que estava há um ano atrás. O António Teixeira Lopes estava a 100% na ARAN o que não acontece comigo, assumindo a Neli Valkanova alguma dessa gestão mais diária, assim como toda a equipa da ARAN está agora ainda mais envolvida.

A ARAN esteve sempre centrada na imagem a na personalidade do seu anterior presidente. Disse que queria continuar o legado do seu antecessor. De que forma o pretende fazer?

Obviamente que existem estilos diferentes e que os desafios que se vão colocam são necessariamente diferentes daqueles que existiam no passado. Isso irá exigir que nos mantenhamos muito atentos, viáveis e saudáveis. É este o legado que pretende continuar e se possível incrementar, aumentando por exemplo o número de associados, o que tem vindo a acontecer, o que dá um sinal claro de que o mercado dá valor ao que fazemos neste Associação. Sabemos que vimos de uma crise muito grande no setor e que agora estamos a sair dela e que isso se reflete positivamente em mais associados.

Existe o objetivo de crescer no número de associados?

Como disse isso é algo que tem vindo a acontecer de forma natural. O foco não é aumentar por aumentar o número de associados, mas sim prestar um bom serviço aos atuais e defender sempre o setor. Obviamente que, tendo dimensão, isso pode ajudar em algumas coisas, mas também sentimos que já temos uma dimensão boa e confortável.

A ARAN continua muito conectada ao “norte”. Existe intenção da sua parte de a tornar mais nacional?

Essa é uma relação histórica que tem a ver com a proximidade. Pela análise da nossa base de associados verificamos que estamos muito bem representamos de Coimbra para norte. Já houve planos de avançar com uma delegação para Lisboa, mas para já isso não está nos nossos planos imediatos, o que pode vir a acontecer, atendendo a que somos de facto uma Associação de âmbito nacional. Se sentirmos que é uma exigência dos Associados poderemos avançar para isso, mas não é algo que esteja em discussão internamente.
Porém, gostava de dizer que a ARAN tem presença em todo o país e nas ilhas, prestando serviços aos nossos associados um pouco por todo o lado.

Quais são as suas principais “bandeiras” de ação como Presidente da ARAN?
Nessa área não existem propriamente novidades, pois as “bandeiras” da nossa ação são basicamente as mesmas que temos vindo a defender nos últimos anos. Contudo, diria que as diversas legislações do setor, os requisitos legais, os custos que geram, a concorrência desleal, a economia paralela, a falta de fiscalização, o ambiente, etc, são muitos dos temas com que iremos continuar a lutar e a debater com os sócios. Vamos continuar a promover protocolos e vantagens que sirvam os interesses dos nossos associados, nomeadamente tendo em atenção todas as novas tecnologias que estão a surgir no nosso setor e que irão com certeza mudar muito a realidade das empresas que são nossas associadas.

Porque razão é que algumas dessas “bandeiras”, que se discutem há tantos anos no setor (através da ARAN e de outras Associações), como a concorrência desleal, a economia paralela, entre outras, não têm fim à vista?
Existem motivos políticos, mas não só. Sabemos que existe falta de fiscalização e aqueles que são fiscalizados são sempre os mesmos, nomeadamente os que funcionam dentro dos horários normais. Não existe muita vontade política para mexer no nosso setor (automóvel, n.d.r.) pelo impacto que isso poderia vir a diferentes níveis.

Uma ação concertada com outras associações, que lutam pelos mesmos desígnios, não teria muito mais força?
Acho que isso faz todo o sentido, até porque por vezes outras associações mesmo fora dos automóveis também têm interesses comuns aos nossos. No fundo estamos todo a lutar pelos nossos associados e por aquilo que acreditamos que será melhor para o país, por isso, se ganharmos dimensão poderemos ganhar com essa situação. Penso que as coisas podem ir um pouco nesse sentido, pelo menos com a ANECRA, já que tem havido alguma aproximação, até porque temos também alguns associados em comum.

Uma das áreas em que a ARAN mais se tem focado é na vertente da formação profissional. É uma aposta para manter?
Será sem dúvida uma aposta para manter. Entendemos que atualmente a aposta na formação dos nossos associados é ainda mais fundamental tendo em conta a eletrónica que existe cada vez mais dentro do automóvel. Contudo, enquanto empresário do setor também digo que se criou um pouco a onda da mecatrónica, pelo que encontramos mecatrónicos com mais facilidade, mas quando se precisa de um chapeiro ou de um pintor, a verdade é que não existem. Alias, temos debatido este assunto com o CEPRA, que nos revela que existe muita dificuldade, chamando mesmo a atenção aos jovens que existe empregabilidade noutras áreas do setor automóveis que não a mecatrónica. Iremos continuar a dar também formação em assuntos gerais, como também em assuntos geridos e noutros. É preciso notar que temos o reconhecimento da DGERT para dar formação em cinco áreas, o que nos permite dar uma formação transversal.

Em que áreas de formação mais se irão focar?
Acompanhamos as tendências do mercado. Muitas vezes são os próprios associados que nos fazem chegar as suas necessidades formativas às quais nós temos vindo a corresponder.

Grande parte dos associados da ARAN (cerca de 78%) são oficinas independentes. São oficinas que têm mais dificuldades para se manter no mercado…
Existem várias realidades de oficinas. As que se têm vindo a organizar em rede, mas existem muitas outras que continuam verdadeiramente independentes. Sabemos que são estas as oficinas que aqui pedem mais apoio, pois têm estruturas muito pequenas e com poucos recursos humanos. Sabemos que para estas oficinas mais pequenas é muito caro cumprir com todas as exigências do setor, sendo muitas delas perfeitamente absurdas, como por exemplo, a questão dos lubrificantes, permitindo que os hipermercados vendam livremente este produto e sem as exigências legais e ambientais ligadas ao mesmo. Tudo isto para dizer que neste setor das oficinas independentes, nomeadamente as mais pequenas, existe uma pressão maior devido às exigências legais e ambientais, mas também muitos desafios associados à componente tecnológica que exigem investimento muito avultados.

Quais são as reivindicações que a ARAN tem para este setor das oficinas independentes (concorrencial desleal, a carga fiscal e ambiental, etc)?

As questões a debater neste setor são transversais a todos as oficinas, embora afetem mais uns que outros. Normalmente, as oficinas independentes mais pequenas necessitam de muito apoio jurídico, por terem estruturas humanas mais pequenas. Diria que fora das reivindicações tradicionais, as oficinas também procuram temas que lhes possam indicar como vai evoluir este setor e nós na ARAN temos vindo também a apostar nesses temas em alguns eventos que vamos organizando.

De que forma pretende dar visibilidade a estas reivindicações… nem sempre as mesmas são do conhecimento do setor em geral?
Aquilo que vamos fazendo vamos dando informação aos associados através dos nossos meios habituais. Porém, alguns associados têm ido connosco a reuniões com algumas entidades que podem, de uma forma mais conhecedora, porque vivem a realidade no terreno diariamente, transmitir essas reivindicações. Para dar mais visibilidade a essas reivindicações temos comunicado mais, como estamos a pensar em mudar o nosso website, de modo a torná-lo mais operacional. Gostava também de dizer que marcamos presença em muitos eventos, salões e fazemos diversas reuniões e wokshop´s, onde contactamos diretamente com o mercado e com o nosso associado.

A ARAN chegou a dinamizar um conceito oficinal denominado “Oficina Certa”…
Este é um conceito que faz todo o sentido numa lógica de certificação das oficinas, mas que não foi criado para competir com outras redes oficinais. No fundo pretendíamos certificar as oficinas de que cumpriam determinados requisitos.

Pretendem continuar a dinamizar este projeto da “Oficina Certa”?
Não está em cima da mesa… para já. Neste momento todos os nossos associados podem aceder aos nossos protocolos, sem qualquer restrição, mas entendemos que o conceito “Oficina Certa” tem que ser repensado para ganhar um pouco mais de força.

O setor das oficinas de marca sofre dos mesmos problemas das oficinas independentes?
Muitos dos problemas são comuns, depois existem problemas específicos para empresas com a dimensão de um concessionário de marca ou um grupo de retalho e outros que afetam as oficinas independentes. As oficinas de marca talvez tenham acesso mais facilitado à informação, assim como as oficinas que estejam estruturadas em rede, mas os nossos problemas são comuns.

A ARAN é gerida por uma pessoa que é administrador de um grande grupo, numa associação em que a grande maioria são oficinas independentes…
Não vejo que existam interesses opostos, antes pelo contrário, pois o maior concorrente de um concessionário não é uma oficina independente, nem o maior concorrente de uma oficina independente é o concessionário. O maior concorrente das oficinas em geral é a concorrência desleal. As questões da concorrência leal e normal entre oficinas não são assuntos dentro da ARAN e por isso não existe qualquer problema em eu estar associado a um Grupo de Retalho Automóvel e ao mesmo tempo defender os interesses das oficinas independentes. A ARAN tem ainda outro tipo de associados, como os rebocadores e carroçadores e, para esses existem questões muito especificas que são diferentes daqueles que existem dentro do setor oficinal.

Foi um setor (das oficinas de marca) que também sofreu grandes restruturações…
Sim, o setor das oficinas de marca sofreu muitas alterações, mas que de momento parece que está minimamente estável. Havia empresas estruturadas para um mercado de venda de 300.000 automóveis anuais, mas que repentinamente passou para metade. Isto trouxe muitos problemas para as grandes organizações, enquanto uma oficina independente de 3 ou 4 pessoas passou pela crise com menores dificuldades. Atualmente, existe espaço para todos.

Como avalia a evolução do setor pós-venda automóvel em Portugal? Que desafios (oportunidade e ameaças) existem para quem repara automóveis?
Os elétricos são para já o grande desafio para todos. Em quatro ou cinco anos de uso, um elétrico gasta sete ou oito vezes menos em manutenção que um veículo a combustão. Isto será sem dúvida um grande desafio para todos os que estão na reparação automóvel. Sabemos que poderá não ser bom para todos, pois havendo menos manutenção vai haver menos faturação no pós-venda. Também é certo que neste momento só existem os híbridos e os elétricos devido às vantagens fiscais, que se não existissem não falamos deles, pois ficavam a um preço que ninguém os comprava. Considero que todos os que estão no pós-venda poderão fazer manutenção nos carros elétricos, sejam independentes ou de marca, mas acho que este negócio vai tornar-se um pouco como o dos eletrodomésticos, em que se troca apenas o componente eletrónico avariado e não existirá tanto a questão da mecânica.

Quantos associados tem a ARAN neste momento? Como pretende aumentar o número de associados?
Neste momento temos mais de 2.000 associados, mas como disse não temos intenções de fazer crescer este número apenas para ter associados. Não tenho dúvida que uma nova oficina que abra tem muitos benefícios se se tornar nossa associada. O apoio que damos e as inspeções que fazemos são uma mais-valia para qualquer oficina que entre neste negócio.

De qualquer maneira, hoje em dia uma associação como a ARAN é quase gerida como uma empresa que tem os seus comerciais no terreno…
Sim, temos promotores que visitam as oficinas. Mas é necessário entender que somos uma associação que presta serviços aos seus associados e em que em alguns deles nem sequer ganhamos dinheiro, mas como somos uma associação conseguimos prestar certos serviços muito mais em conta para o associado do que se ele fosse fazer aquilo a outro lado. Por isso, não se pode gerir ARAN como se fosse uma empresa que tem que dar lucro. Nós estamos aqui para prestar serviços aos associados e que tem vantagens com isso, mesmo que isso não traga lucros para a ARAN.

Pretende potenciar a relação com a ACAP e a ANECRA? Parecem associações concorrentes quando no fundo defendem o mesmo tipo de empresas…
Acho que temos pontos de vista e reivindicações em comum, até porque temos, em grande parte, o mesmo tipo de associado. Contudo, preservamos muito a nossa independência e identidade, funcionando como uma opção dentro do leque de associações onde as oficinas se podem rever.

A ARAN tinha uma grande representatividade internacional por via da presença do seu anterior Presidente em diversos organismos. Essa representatividade é para manter?
De momento decidimos suspender a nossa presença nesses organismos, mesmo tendo sido convidados para continuar nelas. Obviamente que mantemos o contacto e que continuamos a trabalhar com essas entidades e sempre que podermos ajudar estamos disponíveis para o fazer, como já tem acontecido.

Perfil
Formado em gestão de empresas, Rui Gonçalves está desde 2003 ligado às marcas de automóveis. É a terceira geração de uma família umbilicalmente ligada ao setor automóvel. O avô do novo presidente da ARAN fundou a J. J. Gonçalves, empresa que viria a resultar no grupo Gocial, um dos mais antigos e importantes grupos de distribuição automóvel em Portugal. Com 37 anos, Rui Gonçalves está na gestão do histórico grupo sediado no Porto, desde 2003, e na direção da ARAN desde 2011. É administrador da Gocial SGPS, cargo que acumula com a direção-geral das empresas Vap e Sporvap do mesmo grupo. Os 14 anos de experiência no terreno têm como base a preparação académica. O novo Presidente da ARAN tem uma licenciatura em Gestão e uma pós-graduação em Distribuição Automóvel, ambas pela Universidade Católica Portuguesa. Do currículo académico de Rui Gonçalves consta ainda a formação em Gestão na Université Catholique de Louvain, da Bélgica.

Perguntas rápidas

Qual foi o seu primeiro carro?
Um Volkswagen Golf GTi

Quantos quilómetros faz por ano?
Não faço ideia, pois estou sempre a “trocar” de carro.

O que mais gosta no setor automóvel?
O automóvel em si. Tenho uma enorme paixão por automóveis.

E o que menos gosta?
As exigências legais “não lineares” que existem neste setor e a desregulação que existe no mesmo.

É importante ir ao terreno visitar o mercado?
Acho que sim. É muito importante, como é importante ouvir os associados da ARAN, pois os problemas deles muitas vezes podem não ser os nossos. Aprendemos uns com os outros.

O que gosta de fazer nos tempos livres e quando não está a falar de oficinas?
Acima de tudo, gosto de estar com a família e recentemente tenho investido no Padel.

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